Estudos bíblicos


Grupo Familiar – A Igreja nos lares
Introdução:
Ler Atos 2:41-47
O texto que acabamos de ler, nos mostra a forma como a igreja primitiva vivia no inicio de sua existência. O relacionamento nos lares era algo natural entre os irmãos e uma característica da igreja apostólica. A expressão “partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração”, revela que a vida da igreja era intensa e a relação era muito estreita, pois, não se resumia à reunião pública, mas, a uma vida em comum, onde os irmãos se conheciam e participavam uns da vida dos outros. As necessidades eram conhecidas e supridas, não havia necessitados, era uma verdadeira família, onde “irmão” era mais que uma expressão religiosa, era uma realidade.
Embora a bíblia diga que eles também perseveravam todos os dias no templo, a vida nos lares era a principal referência da igreja. O templo naquela época era o de Salomão, onde só os judeus tinham acesso e todo o culto que se realizavam naquele lugar, era na liturgia judaica. Ali os discípulos se encontravam para orar a Deus (Atos 3:1), pregar o evangelho aos judeus (Atos 3:11-26) e ensinar os irmãos. Entretanto era uma liberdade vigiada, onde as autoridades religiosas perseguiam todo aquele que anunciasse o nome de Jesus (Atos 4:1-3). Onde então os discípulos encontravam maior liberdade para serem ensinados e pastoreados?
Atos 5:42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.

Esse estilo de vida foi à marca da igreja por muitos anos. Mesmo após a perseguição relatada em Atos 8:1, quando foram dispersos, os irmãos continuaram vivendo uma vida de igreja, se relacionando nos lares. Embora espalhados pela Judéia e Samaria, não perderam a essência do viver em família, mesmo longe do Templo que ficava em Jerusalém.
Paulo, anos mais tarde, escrevendo às igrejas que ele mantinha relacionamento, deixava claro onde essa igreja era encontrada:
Atos 20:20 “...ensinar publicamente e também de casa em casa”.
Romanos 16:5 “...a igreja que se reúne na casa deles”.
1 Coríntios 16:19 “...a igreja que está na casa deles”.
Colossenses 4:15 “à igreja que ela hospeda em sua casa”.
Filemon 1:2 “...à igreja que está em tua casa”.
2 João 1:10 “não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas”.

A história nos conta que essa prática começou a mudar a mais ou menos 300 anos depois, quando Constantino, imperador de Roma, se declarando convertido ao evangelho, implementou mudanças na igreja. Inicialmente tornou o cristianismo a religião do Estado, posteriormente começou a construir as catedrais, onde, entre outras coisas, a vida da igreja nos lares se deteriorou.
No século passado, Deus começou a restaurar mais intensamente essa prática, onde alguns pastores inconformados com a vida da igreja e confrontados com o modelo apostólico, redirecionou o relacionamento da igreja para os lares.
1 – Igreja nos Lares = célula.
Muitos nomes foram dados para identificar a igreja nos lares. Grupo caseiro, grupo familiar ou célula, são os mais comuns. Nos últimos anos o termo célula tem sido mais freqüentemente usado, embora, por causa de alguns movimentos evangélicos, tem caído no descrédito.
Por que célula?
Célula, é uma boa figura para explicar a igreja nos lares. Ela é a unidade morfológica e fisiológica dos seres humanos, constituída de vários elementos responsáveis no processo da multiplicação. É nela que se encontra a saúde ou doença dos homens. Há algumas semelhanças entre ela e a igreja nos lares.

• A célula espiritual é a menor unidade onde se expressa a vida da igreja (Mateus 18:20).
• A célula espiritual é um lugar de multiplicação, assim como a biológica.
• A célula espiritual é um lugar de ensino (alimento) e edificação (crescimento) como a célula no homem.
A célula é o grupo pequeno formado por pessoas, que se relacionam com o objetivo de desenvolver crescimento espiritual e serviço, cooperando assim com a edificação e a multiplicação no Corpo de Cristo.
O termo “célula” melhor se aplica a este tipo de reunião, porque nem sempre será desenvolvida na casa, pode acontecer em qualquer lugar que possibilite o seu funcionamento (casas, local de trabalho em horário de almoço, nas praças públicas e etc).
2 – Funções da célula.
a ) – Ser a referência da família de Deus.
Vivemos num tempo onde o evangelho tem sido pregado por todo o mundo. Através dos meios de comunicação, a palavra da salvação tem chegado a vários lares, levando milhares de pessoas a Cristo. Infelizmente, a maioria dessas pessoas não permanece ou não chegam a fazer parte de uma igreja local. Quando saímos nas ruas, deparamos com um grande número de ovelhas desgarradas, sem pastor, que não fazem parte de nenhum rebanho. Aqueles que chegam a freqüentar a reunião da igreja, depois de algum tempo, por não serem vinculados, acabam por deixar o convívio dos irmãos. A impressão que temos é que há uma porta aberta nos fundos do aprisco, fazendo com que a ovelha que entra pela porta da frente, saia pela dos fundos. E o mais impressionante, é que ninguém se dá conta disso.
Quando alguém nasce de novo, precisa fazer parte da família. Há uma necessidade no homem de construir vínculos, possuir amizades, de ser aceito e valorizado. Isso não é possível numa grande congregação, pois ali as pessoas não se conhecem de verdade por não relacionarem de perto. O melhor contexto de família é vivido no grupo familiar, onde o número de discípulos é pequeno e os encontros normalmente acontecem nos lares, possibilitando assim um ambiente familiar.
b) – Zelar pela comunhão entre os discípulos.
Ler Atos 2:42-44.
O texto acima fala de como vivia a igreja apostólica. Eles perseveravam na comunhão. A comunhão é a associação com uma pessoa, envolvendo amizade e incluindo participação nos seus sentimentos, nas suas experiências e na sua vivência. É um relacionamento que envolve propósitos e atividades comuns. Não é algo fácil de se conquistar e muito menos de se manter.
Comunhão é permitir que as pessoas tenham acesso às nossas vidas, assim como, também ter acesso à vida deles. Os religiosos não querem esse tipo de relacionamento, preferem andar em trevas, porque não querem ser reprovados pela luz.
Segundo I João 1:5-7, a comunhão é resultado da luz de Deus sendo praticada no meio da igreja. Essa vida na luz gera a comunhão do corpo de Cristo. Na célula, o líder, o núcleo e os discipuladores funcionam como um elo de ligação entre os discípulos, preservando assim a unidade do corpo no vínculo da paz.
c) – Assistir aos necessitados.
Ler Atos 4:34-35.
Uma característica muito marcante na igreja primitiva era como ela cuidava dos seus necessitados. Diariamente o Senhor acrescentava a igreja àqueles que haviam de ser salvos (Atos 2:47), uma multidão de discípulos era incluídos na família. Com certeza, no meio dessas pessoas, havia muitos pobres, órfãos e verdadeiras viúvas, que dependiam do favor de alguém para sobreviver. Nenhum necessitado havia entre eles, pois se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.
Essa realidade perdurou por algum tempo, até que em Atos 6:1-4, com o crescimento dos discípulos, houve murmuração no meio da igreja, pois, algumas viúvas estavam sendo esquecidas.
Essa experiência nos mostra que a assistência aos necessitados é mais bem desenvolvida nas células, pois, é possível que na grande congregação alguém passe despercebido. Inclusive, por se tratar de um grupo pequeno, onde as pessoas se relacionam e o líder conhece cada ovelha, isto possibilita uma melhor avaliação se tal pessoa é verdadeiramente necessitada.
d) – Promover a edificação e o crescimento do Corpo de Cristo.
Ler Efésios 4:15,16; Colossenses 2:19.
Uma vez que alguém nasce na família de Deus, ele precisa crescer e se desenvolver até a plenitude de Cristo. Precisa deixar de ser menino, pois o alvo de Deus para o homem é que ele se torne perfeito. Para a maioria dos evangélicos o objetivo da salvação é ir morar no céu. Isso é conseqüência e não o propósito de Deus.
Edificação e crescimento são duas palavras que caminham juntas. Falar de um corpo edificado e dizer o mesmo que maduro, pleno ou crescido (até a estatura de Cristo). A bíblia nos ensina que este crescimento ou edificação é resultado de:
• Falar a verdade em amor, Efésios 4:13.
• Suprimento (alimentado ou ensinado), Colossenses 2:19.
• Bem vinculado, Colossenses 2:19; bem ajustado, Efésios 4:16.
(pelo auxílio de juntas e ligamentos)
• Cooperação mútua de cada um (serviço), Efésios 4:16.
Não há um lugar melhor para se promover o crescimento e a edificação dos discípulos do que na célula. Nos grupos pequenos os irmãos se relacionam como família. Nessa convivência os membros se conhecem e são conhecidos, onde cada um pode cooperar na edificação do outro. Ali o líder pode ensinar os discípulos de uma forma mais direta e eficaz, pastoreando os irmãos de perto e cooperando assim no crescimento da igreja local.
e) – Trabalhar para a multiplicação dos discípulos.
Ler Atos 6:7.
Há uma consciência religiosa no meio evangélico que, os pastores são os únicos responsáveis pelo aumento do rebanho, isso é um engano. Todo discípulo de Jesus tem o compromisso com a multiplicação na igreja. Quem gera ovelha é a própria ovelha. Por muitos anos todo o trabalho na igreja se restringiu aos pastores. Isso além de ter trazido uma sobre carga sobre os líderes, comprometeu também o crescimento do rebanho. Em Efésios 4:16, Paulo diz que “segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento”. A multiplicação dos discípulos é o resultado da cooperação de cada membro do corpo. Na célula, por ser um grupo menor, podemos ordenar todo discípulo no evangelismo, tanto pessoal, quanto em grupo.
Um outro erro que se comete é atrelar a multiplicação do rebanho às reuniões de celebração. Quando isso acontece, restringimos o alcance do evangelho. Lembre-se que Jesus nos ordenou para que fôssemos por todo o mundo e pregássemos o evangelho a toda criatura. Ao contrário do que acontece nas reuniões públicas, a célula vai até as pessoas que precisam ouvir a palavra de Deus. Ampliamos o alcance dos perdidos, de uma reunião pública para muitas acontecendo simultaneamente. Através das células abrimos várias portas na cidade para que os perdidos entrem no reino de Deus.
Há muitas pessoas que não vão a uma celebração da igreja, pois, além de ser longe de suas casas, não se sentem atraídas a uma reunião naqueles moldes. Isso não acontece na célula, por ser tratar de uma reunião informal e normalmente o visitante tem algum tipo de relacionamento com alguém da célula (parente, vizinho ou companheiro de trabalho e etc).
3 – Como desenvolver uma célula?
• Escolher o local da célula.
• Definir o dia, horário e duração da célula: é importante que a célula ocorra semanalmente em um só dia. O líder tem que evitar trocar o dia e o horário da mesma para não gerar confusão e conseqüentemente o desânimo dos membros. Cada atividade na célula tem que ter um tempo definido.
• Atividades na célula: boas vindas, oração inicial, louvor, pequenos testemunhos, ensino circunstancial, apelo, oração pelas necessidades, ofertas, oração final e comunhão.
• Quando não houver músico na célula, usar equipamento de som, caso o ambiente permita.
Obs: Embora tenhamos que ordenar o funcionamento da célula, não queremos limitar o mover do Espírito Santo, sendo assim o líder poderá modificar alguma coisa quando inspirado pelo Senhor.

4 – Entendendo o papel do líder na célula.
• Ser um facilitador para treinar os irmãos no desenvolvimento da célula.
• Determinar previamente os irmãos que estarão responsáveis por cada atividade na célula.
• Cuidar para que a célula seja desenvolvida de acordo com as atividades acima citadas, sem que o tempo extrapole e nada deixe de ser feito.
• Desenvolver diversas estratégias de evangelismo.
• Desafiar os discípulos a pregarem o evangelho diariamente e a levar convidados semanalmente na reunião da célula.
• Estabelecer um alvo de multiplicação: número de discípulos e a data quando multiplicar o grupo.
• No tempo destinado ao ensino circunstancial, fazer uma reflexão sobre a palavra profética ministrada na Reunião Geral da Igreja.
• Cuidar para que cada discípulo tenha uma cobertura pessoal e um companheiro de relacionamento.
• Supervisionar os discipuladores na aplicação da lição semanal no discipulado pessoal.
• Zelar pela saúde espiritual do rebanho (célula), vigiando para que nenhuma heresia chegue até as ovelhas.
• Pastorear as ovelhas da célula e ir a busca da perdida.
• Desenvolver atividades que gerem comunhão e serviço.
• Manter o grupo sempre motivado.
• Dar relatório semanal ao supervisor de células.
• Recolher as doações (dízimos, ofertas, mantimentos e etc) e repassar aos respectivos responsáveis.

Objetivo deste estudo:
 Trazer revelação ao aluno do princípio (relacionamento) que estar por trás da igreja nos lares.
 Levá-lo entender que esta prática é coopera com o crescimento com qualidade;
 O desenvolvimento de uma célula e suas funções;
 O seu papel de cooperador dentro da célula (o líder não é centralizador).